Matéria Especial da Semana: Washington Nunes
Por: Rennan Bontempo –
A Federação Paulista de Handebol desenvolveu a série “Matérias Especiais”, na qual, semanalmente, buscaremos apresentar profissionais ligados ao Handebol, a fim de expor a todos os amantes deste esporte, um pouco mais sobre a vida de quem vive e viveu pelo handebol.
Nesta semana, a FPHb resolveu saber um pouco mais sobre a vida de Washington Nunes, um profissional vencedor e apaixonado pelo esporte.
Washington foi jogador e técnico da Seleção Brasileira de Handebol. Hoje é treinador e participa de um projeto inovador no São Caetano/SERC/Sta Maria.
Como tudo começou…
Aprendi a jogar handebol na escola, mas, gostava mesmo era do tal do futebol. Meu maior ídolo era o Rivellino e, sempre que podia, treinava aquela finta do elástico que ele dava com maestria. Eis que surgiu na escola um professor de Educação Física, Hélvio Martins, que começou a desenvolver, em algumas aulas, habilidades diferentes das que eu já tinha feito em aula e, passo a passo, foi nos ensinando a jogar e a gostar do handebol. Passado um tempo, eu já estava jogando na equipe mirim de Guarulhos e disputando o Campeonato Paulista, tendo os professores José Bernardes e Hélvio como técnicos.
Daí pra frente, a paixão estava instalada.
No ano seguinte, eu treinava pela manhã com o infantil, estudava à tarde e treinava à noite com os cadetes, que na época chamava-se infanto-juvenil. Tive a honra de ser convocado para a seleção paulista e fui campeão brasileiro nos JEB’s em Brasília.
A paixão e a vontade eram grandes, mas eu tinha que ajudar em casa e, a partir do ensino médio, o antigo colegial, eu estudava pela manhã, trabalhava à tarde e treinava à noite. Até que entrei para a faculdade de Educação Física e aí as coisas se complicaram. Passei a trabalhar o dia inteiro, estudar à noite e o sonho de um dia ser convocado para a seleção brasileira começava a ficar distante.
Jogador e treinador
Eu não era um mau jogador, mas, não tinha o biótipo para a seleção, apesar de que quando se tem 17 anos, achamos que tudo é possível, e por isso, entendi que poderia me dedicar aos estudos e, quem sabe, me tornar treinador para, quem sabe, aí sim, poder participar da seleção brasileira.
Passei a ser treinador das equipes menores de Guarulhos chegando a duas finais do Campeonato Paulista: infantil e cadete. Depois de um tempo como treinador, recebi um convite para jogar no Corinthians. Aceitei, mas, também assumi, como treinador, as equipes cadete e juvenil do clube.
Foram dois anos de muito aprendizado, principalmente com o professor Antonio Carlos Simões. Nesse período eu disputei uma semifinal no juvenil e, assim que o jogo acabou, saí correndo pra casa pra tomar banho, colocar o terno e ir para a igreja me casar. Quando minha noiva, Claudia, que também jogava handebol, entrou na igreja, olhou pra mim e sua primeira pergunta foi: -“E aí? Ganharam?”. O pior de tudo é que havíamos perdido por um gol de diferença, com direito a um sete metros a favor que foi arremessado na trave, no fim do jogo.
Em seguida, veio o plano Collor e o então presidente do clube, Vicente Matheus, resolveu acabar com o esporte amador. Nesse período, além de trabalhar com handebol, eu era preparador físico da equipe de voleibol do Pão de Açúcar.
Tive, então, minha primeira convocação para seleção brasileira: ser o preparador físico da equipe que iria jogar o Pan-americano em Cuba, classificatório para o mundial. Conquistamos um vice-campeonato e fui convidado a seguir trabalhando com a equipe tendo em vista os Jogos Desportivos Pan-americanos, que seriam em Havana, e que garantiriam a vaga para a nossa primeira olimpíada. Com o término das atividades no Corinthians, apareceu uma das figuras mais importantes de minha vida no handebol: Professor Arcílio Tavares. Ele me convidou para trabalhar nas categorias de base do Esporte Clube Pinheiros. Consegui conciliar meu novo clube com a seleção, e rumamos ao Pan-americano. Passo a passo, o Brasil foi vencendo seus jogos e se qualificou para a final contra Cuba.
Dor dentro e fora das quadras
Estávamos no aquecimento para o jogo e ouvimos um baita barulho vindo das arquibancadas. Olhamos e vimos entrar no ginásio, nada mais nada menos, que “El” comandante Fidel Castro. Os cubanos, que já eram fortes, jogaram com a alma e para o presidente, mas, mesmo assim, controlamos o jogo e, faltando apenas 40 segundos para acabar a partida, Cuba arremessou a bola pra fora, nos dando a posse da bola e, como tínhamos um gol de vantagem, fomos para o último ataque. Nossa! A possibilidade real de ganhar dos tão temidos cubanos e de carimbar o passaporte para Barcelona estava naquele último ataque. Precipitamo-nos, arremessamos antes da hora, erramos o gol e demos a bola de novo para Cuba que veio ao ataque e, faltando 8 segundos, empatou o jogo, levando a decisão para a prorrogação. Não conseguimos jogar melhor que eles nesse período e perdemos por um gol de diferença. Essa talvez seja a derrota mais sofrida que tive em toda minha carreira.
No E.C. Pinheiros, clube pelo qual tenho muito carinho, fiquei por 11 anos conseguindo títulos nas categorias menores, como campeonato paulista, copa São Paulo e campeonato brasileiro. Após três anos de trabalho, aos 33 anos de idade, assumi a equipe adulta. O Arcílio, de novo, confiou em mim e me colocou em um posto que eu sempre almejei, mas, não acreditava ser possível alcançar tão rapidamente.
Com a equipe adulta também participei de jogos memoráveis, conquistando um tricampeonato paulista, um brasileiro e um sul-americano de clubes.
Em meio a tudo isso, Cuba anunciou, após alguns meses, que não mandaria a equipe às Olímpiadas por problemas econômicos. Enchi-me de alegria, mas isso durou pouco, pois, assim que o projeto olímpico foi montado, fui substituído e o sonho de ir à uma olimpíada se acabou. Fora das quadras, essa foi uma dura derrota.
O recomeço, as conquistas e a realização de um sonho
Tempos depois, fui surpreendido com o convite do professor Alberto Rígolo, para que eu fosse o assistente técnico da seleção que disputaria os Jogos Olímpicos de Atlanta. Trabalhamos muito e, desta vez, consegui realizar o sonho: participar de uma olimpíada.
Em seguida, por questões profissionais, fui coordenador de Educação Física da Escola da Vila e fiquei afastado das seleções por três anos. Após esse período, o presidente da CBHb, professor Manoel Luiz, me convidou para voltar e comandar a equipe júnior masculina do Brasil. Foram quatro anos muito felizes, conseguindo trabalhar com muitos jogadores que se tornaram consagrados no cenário nacional e, nesse período conseguimos obter três conquistas de sul-americanos, um pan-americano. Participei também dos mundiais da Suíça (passando pela primeira vez para a segunda fase) e do Brasil (ficando entre as oito melhores seleções).
São Caetano, Seleção, São Caetano…
Após 11 anos de Pinheiros, fui apresentado a uma pessoa que se tornou um grande amigo: Flávio Pontes, que me convidou para dirigir a equipe de São Caetano do Sul.
Em São Caetano, posso dividir meu trabalho em dois períodos distintos.
O primeiro momento com a equipe adulta, que tinha um grande aporte financeiro e uma forte parceria com uma universidade. Isso fez a equipe disputar competições em alto nível, confrontando as melhores equipes do país de igual para igual. Fomos três vezes campeões dos Jogos Abertos do Interior e dos Jogos Aberto Brasileiros, bi-campeões paulistas e campeões da Liga Nacional.
Nesse período com a equipe adulta em São Caetano, recebi um novo convite para retornar à seleção nacional. Desta vez para desenvolver um trabalho junto com o Jordi Ribera, treinador responsável por alavancar uma série de projetos de formação de treinadores e de jogadores e que, no meu ponto de vista, mudou totalmente a forma de vermos e treinarmos nosso esporte. Foi um trabalho intenso, mas, muito gratificante. Jogamos e vencemos o Pan de São Carlos e, a partir daí, começou a preparação da equipe brasileira para aquela que seria minha segunda participação em olimpíadas: os Jogos Olímpicos de Pequim.
Após a olimpíada, Jordi foi para a Espanha dirigir o Ademar e assumi a equipe que foi ao mundial da Croácia. Não tivemos um bom resultado, pois, muitos jogadores do ciclo olímpico estavam machucados, mas, mesmo com uma equipe jovem, conseguimos um grande feito: vencer a equipe da Sérvia. Posso considerar também, esse com um grande momento na minha carreira de técnico. Após o mundial da Croácia, voltei minhas atenções novamente aos trabalhos e pedi um afastamento por quatro anos.
Neste meu segundo momento em São Caetano, o investimento da iniciativa privada diminuiu e a rota foi alterada para a montagem de um projeto maior, a longo prazo, investindo na formação de jovens jogadores. Hoje, São Caetano do Sul tem as equipes mirim, infantil, cadete, juvenil e júnior, masculinas e femininas. Sabemos que todo trabalho de base demora para dar resultados, mas, temos a certeza que conseguiremos, ao longo dos próximos anos, voltar a subir em pódios e obter novas conquistas.
Seleção Brasileira
Tivemos agora a feliz notícia do retorno do Jordi e, tenho certeza, que ele tem grandes projetos. Espero que tenha possibilidade de implantá-los. Acredito que, para nossa modalidade crescer, precisamos terminar a construção do Centro de Treinamento de Seleções, que será em São Bernardo. Um marco para o desenvolvimento efetivo de nossa modalidade.
Federação Paulista de Handebol
O momento atual da Federação Paulista de Handebol me agrada, pois, desenvolveu grandes ideias e as pôs em prática, como por exemplo a criação do Final Four, masculino e feminino, com cobertura da TV e atração de grande público aos jogos.
Acho que a atual administração quer fazer coisas boas, e espero que consigam implantar as ideias com uma velocidade maior do que a que temos visto nos diferentes níveis de gestões de todas as modalidades amadoras do país.
Washington Nunes tem dois filhos, também apaixonados por Handebol. Um chegou à seleção brasileira como jogador, o outro jogou, mas, atualmente está estudando Educação Física e já trabalha com este esporte.
“O handebol, por vezes, se mistura com minha própria vida.” – Washington Nunes