ENTREVISTÃO | ‘Meu ídolo é o povo brasileiro’, revela Morten Soubak, em entrevista exclusiva!
Por: Fernando Guifer
Treinador da seleção feminina do Brasil, o dinamarquês Morten Soubak, deu uma nova cara ao estilo de jogo para o Handebol tupiniquim, que já começou a colher seus primeiros frutos perante o mundo. Eleito o segundo melhor técnico do planeta, o comandante de 48 anos, levou o país à conquistar feitos inéditos, como o quinto lugar nos Jogos de Londres, em 2012, e a mesma colocação no Mundial, em 2011, ambos com possibilidades de colocações ainda melhores, o que tem deixado todos os torcedores otimistas em relação ao futuro do nosso Handebol.
Durante os dias 09, 10 e 11 de novembro, Soubak esteve na cidade de Mogi-Mirim, interior de SP, em que palestrou no Curso de Handebol 2012, promovido pela HandSport e pela Escola Nacional de Esportes. Além de mostrar um pouco da sua “bíblia” de competições para centenas de privilegiados, ele comandou diversos treinos em quadra, passando parte de sua experiência aos professores e treinadores aspirantes que lá estavam.
Aproveitamos o intervalo de uma das apresentações de Morten para bater um papo muito legal e descontraído com ele, não falando somente do Handebol, mas focando na parte externa da quadra. Muito simpático com todos, esperamos ele atender uma fila interminável de autógrafos e fotos para saber mais sobre a vida do dinamarquês, nos mais variados âmbitos, descobrindo o lado mais “humano” de Morten Soubak.
Quando o assunto é Handebol, vem a seriedade do comandante que, só é interrompida, quando mencionamos a palavra BRASIL, e o sorriso largo no rosto fica inevitável. Confira tudo agora!
– Fale sobre a importância que um Curso de Handebol como este tem para a formação e capacitação de futuros profissionais.
Estou feliz em poder participar de um evento desse, e claro que me deixa feliz também ver que são tantas pessoas representando o Brasil inteiro. Se nós que estamos trabalhando aqui, todos juntos pudermos dar ideias, dicas ou treinos que ajude a cada uma das pessoas que estejam atuando, seja com masculino ou feminino, adulto ou base, vou ficar feliz.
– Aqui no curso, você trabalhou na quadra com diversos garotos cadetes da cidade de Santa Cruz das Palmeiras. Como é atuar desta maneira?
São situações diferentes e pra mim é um prazer poder trabalhar com essas pessoas. Sei muito bem não podemos comparar com seleção um time de cadetes ou amador, mas é muito legal ver a vontade que eles tem de treinar, aprender, mostrar curiosidade, e isso acho muito legal. Estou para apresentar alguns exercícios que temos trabalhado na seleção ou até mesmo alguns exercícios que acredito ser possível trabalhar em algum time de base.
– Você gesticula e grita bastante durante os treinos. Este “jeitão Morten” é assim também com a seleção?
Sim, este sou eu (risos). É meu estilo, é minha personalidade e como eu realmente trabalho, seja no masculino ou feminino. Eu me envolvo muito no trabalho e nos exercícios mesmo.
“Acho que quem chorou mais na Copa da Espanha, em 82, foi eu.”
– Quais as principais diferenças entre trabalhar com atletas do masculino ou feminino?
Óbvio que existem diferenças. A primeira é fisicamente, são duas coisas totalmente diferentes (masculino e feminino). Mas falando do exercício em si, a meta de treinar bases ou defesas não muda. Então, não tem desculpas por ser masculino ou feminino ou idade, pra mim não tem diferença.
– A seleção feminina ganhou uma nova cara com você no comando. Está otimista com o futuro?
É claro que eu tenho uma expectativa de que o Handebol dentro do nosso próprio país venha a crescer e tem chances de crescer. Mas isso vai depender muito de todos nós que trabalhamos com Handebol em qualquer lugar do país. Então é um desafio para todos nós começar a fazer algo pela modalidade no lugar em que você mora. Por outro lado, eu acho que nós teremos outras dificuldades, pois a maioria que representa à seleção está na Europa, então não temos aquele espelho dentro do país. Acho importante também que tenhamos alguns que possam se tornar espelho no Brasil. .
Você sente falta do surgimento de ídolos, até para que nossas crianças tenham mais referências?
– Isso falta muito e talvez não só apenas em nosso Handebol, mas em outras modalidades. Mas eu acho que é importante para a molecada ter ídolos para olhar com respeito, como espelho, uma referência do futuro. Eu acho importante que eles estejam aqui no Brasil. Acho que este é um dos grandes desafios daqui pra frente.
– O que representa o Brasil pra você?
O Brasil representa muita coisa, porque eu acho de vez em quando que nasci no lugar errado e que me sinto brasileiro em vários sentidos. Sei que vou ser dinamarquês e não vou fugir disso, nem quero (risos), mas me sinto muito bem e admiro muito o povo brasileiro, aprendo muito com o povo brasileiro. Tenho um ídolo que é o povo brasileiro. Me identifico na maneira de como viver a vida, como ficar com amigos e como tratar as outras pessoas. Então acho que me identifiquei rápido e me adaptei muito rápido com o estilo e o jeito brasileiro. Me sinto muito bem e estou muito feliz no Brasil.
– O que mais te incomoda no Brasil?
Hoje, por exemplo, eu brinquei dando exercícios aqui no ginásio, falei que um brasileiro gasta cinco anos da vida ficando em filas, tudo aqui é fila. Tem uma burocracia pesada no Brasil. O trânsito incomoda também, mas acho que é uma questão do tamanho da cidade, pois no mundo inteiro tem muito trânsito, então isso pode incomodar em São Paulo ou no Rio de Janeiro, mas é igual em cidades da Alemanha, por exemplo.
– Qual visão política você tem do nosso pais, relacionando com a Dinamarca?
Sei que isso é totalmente diferente. Venho de um país que é do tamanho do Estado do RJ, tem um pouco menos de seis milhões de habitantes e a educação é totalmente diferente. Todos tem educação de graça, está tudo pago, não tem buraco nas ruas e a corrupção não tem comparação, pois aqui, todos os dias que abro o jornal, vejo que alguma coisa está errada. Então isso pra mim é muito diferente como o crime. Aqui não deixam crianças nas ruas porque não confiam, na Dinamarca vemos crianças com sete anos indo à escola de bicicleta. Então, a questão de segurança é totalmente diferente, sistema de educação é totalmente diferente, lá é tudo de graça e está tudo pago para estudar e aqui é o contrário.
“Eu acho importante que os ídolos estejam aqui no Brasil. Acho que este é um dos grandes desafios daqui pra frente.”
– Tem medo da violência no Brasil?
Não tenho medo, mas me preocupa pelo jeito em que está. Mas é uma responsabilidade minha e sua para melhorar a questão do crime.
– Qual o melhor lugar no Brasil?
Isso eu posso afirmar de maneira bem tranquila, a Bahia é o melhor lugar. O estado no geral, amo Porto Seguro, amo Salvador. A Bahia é o melhor lugar.
– Estamos agora no interior de SP (Mogi-Mirim), você gosta dessa tranquilidade ou é uma pessoa mais urbana?
Eu gosto, eu sou caipira mesmo, eu nasci lá no mato da Dinamarca e estou bem acostumado. Nasci entre porcos, cavalos e vacas, então eu sei bem o que é isso (risos).
– Quando não está trabalhando, o que gosta de fazer em São Paulo?
Gosto de fazer atividades com a família, como levar o filho em algum parque e brincar, é claro que eu gosto. E assistir ao futebol do São Paulo.
– Você é um são-paulino quase fanático e adora o futebol brasileiro. Fale sobre o surgimento dessa paixão.
O Futebol sempre foi meu esporte, não tem como tirar isso, e como disse: Estou em casa. Eu praticava, como muitos meninos na Dinamarca, vários esportes de infância, e o Futebol era um deles. Até falando de ídolos, onde eu nasci não teve Handebol muito forte, assim como outras modalidades, exceto o Futebol. Então, na minha cidade tinha um clube que jogou a liga de Futebol e foi fácil de gostar, pois foi a minha preferência, meus ídolos estavam lá, os jogadores da seleção e tudo mais. Sempre foi minha preferência, mas eu amava o Handebol e acabou sendo meu esporte. Na infância eu sempre acompanhei à seleção brasileira, não me ligava com clubes brasileiros morando na Dinamarca, mas a seleção em si, sempre amava e acompanhava. Acho que quem chorou mais na Copa da Espanha, em 82, foi eu.
Tem medo de ir ao estádio?
– Não tenho medo, se eu quero ir a um jogo eu vou. Já fui várias vezes ao Pacaembú, Maracanã, peguei Vasco e Corinthians no Rio, não tem problema, eu vou direto.
Está por dentro do Campeonato Brasileiro?
– Também. Mas como tenho muitas viagens, acabo perdendo de vez em quando, mas quando volto à SP acompanho diretamente.
– E o Palmeiras, cai??
Isso eu não sei (risos)
– E o Fluminense…
Está indo bem, vai ser campeão (risos).
Confira nas próximas horas o áudio completo desta entrevista na RÁDIO FPHand!!!
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