ENTREVISTÃO | Bruno Souza diz que vai levar o ‘style’ carioca para os atletas na Vila Olímpica
O ex-armador da seleção brasileira está ansioso para receber o mundo na cidade maravilhosa
Craque. Essa é a palavra que expressa bem o significado para o nome Bruno Souza, ídolo do Handebol brasileiro. Hoje com 35 anos, ele que já foi eleito o 3° melhor jogador do mundo não desvenda o mistério sobre o possível fim da carreira, interrompida por graves lesões que se acumularam nos últimos dois anos, principalmente.
Paralelamente a esperança que os torcedores tem de vê-lo novamente nas quadras, o bicampeão Panamericano, que também soma duas participações olímpicas (Atenas 2008 e Pequim 2008), se rendeu a uma nova paixão que o conquistou fora das quatro linhas: A Gestão.
Primeiro ele foi convidado pelo COB para participar de um projeto em que seria treinado para capacitar ex-atletas a gerir suas carreiras depois da aposentadoria. Com o bom andamento da coisas, o armador boa praça conquistou ainda mais a confiança dos “chefes”, e até por falar cinco idiomas, foi convidado para encabeçar a gestão da Vila Olímpica e Paralímpica nos Jogos Olímpicos que serão realizados no Rio de Janeiro, em 2016.
Encontramos Bruno Souza durante o Curso de Handebol 2012, realizado na cidade de Mogi-Mirim, interior de SP, e falamos muito sobre suas funções dentro do COL RIO 2016, além de puxar o papo para um lado pouco explorado do atleta, que se resume como um “paizão”. Além disso, falamos de Futebol, seu possível retorno à Europa para criar o filho e o projeto Camp, que é a menina dos olhos deste carioca atualmente. Veja!
– Você está a frente de toda logística que envolve à Vila Olímpica dos Jogos no Rio. Como está sendo ‘bater cartão?’
Nossa cara, parece mentira, mas eu saio de casa e vou de Van ao trabalho, não vou de carro, vou de Van privada, mas é van (risos). É muito engraçado porque sou o primeiro a chegar e o último a sair, então é um ambiente diferente, tenho meu escritório, minha mesa, meu computador, trabalho todo “emperequetado”, e descobri depois de anos que eu não tinha tanta roupa social quanto calças de moleton, por exemplo. Então foi um choque no guarda-roupa também. Mas é muito legal, as pessoas me respeitam muito, até por ser um universo olímpico no qual eu acabo tendo uma experiencia diferente, antes como cliente, agora como provedor do serviço. Está sendo uma experiencia muito bacana e o pessoal do RIO 2016 me acolheu de braços abertos.
– Muitos brasileiros ainda olham com desconfiança os Jogos de 2016. O que pode falar sobre isso?
No nosso caso, trabalhamos especificamente com à Vila Olímpica, que é um investimento privado e será vendido após os Jogos, então a gente tem muita certeza de que tudo o que está acontecendo e sendo planejado ali. Pra você ter uma ideia, as obras começaram em Junho, e hoje está com dois meses de avanço em relação ao cronograma. Óbvio que ficou uma marca muito grande de tudo o que aconteceu no Pan, pelo legado não ter sido aproveitado da maneira esperada e planejada, mas o mundo olímpico é muito maior e não tem muito a ver com o Panamericano, que é um “ensaio” muito pequeno perto deste que é o maior evento do mundo. A Vila Olímpica é o local de não-competição mais importante deste evento, então, você coordenar à Vila é muito complicado, pois é um local que não dorme, são 25 dias, 24 horas por dia. Mas o ambiente é muito bom e as pessoas tem trabalhado com maior seriedade, hoje nós somos 370 funcionários, até 2016 seremos oito mil. As pessoas estão muito empenhadas e hoje dobram suas funções, mas está muito divertido.
– De tudo o que você observou em Londres, o que pra você não poderá faltar no Rio?
Londres foi muito bem falada porque à Vila Olímpica foi muito funcional, facilitava demais a vida dos atletas, além de terem se preocupado, em primeiro plano, o que era nítido, em fazer os Jogos para os atletas e para os espectadores. O que aconteceu em outros Jogos, é que outras prioridades políticas, às vezes Federações, as vezes para não atrapalhar tanto ou mega contruções que nem são utilizados, como em Pequim. Então Londres priorizou o espectador, que tinha facilidade em chegar nos locais de competição, e o atleta tinha uma vida bem londrina funcional dentro da vila. O que a gente vai tentar expor para o RJ, além da funcionalidade operacional, é a cara, o “style” carioca dentro da Vila, e vão ter coisas muito mais ao ar livre, teremos piscina em cada bloco de apartamento, que é uma coisa de apartamentos de luxo que lá no Rio é normal. Enfim, outras coisas que serão só do Rio, assim como Londres teve coisas especiais que era só em Londres, o Rio também terá. De Londres vamos trazer a funcionalidade e exatamente fazer os Jogos para as pessoas que são mais importantes, que são os atletas.
– Você tem muitos amigos fora do país. Qual visão eles tem apresentado sobre Jogos Olímpicos no Brasil?
Uma oportunidade para todos aqueles que sempre quiseram vir ao Brasil, né? O Rio de Janeiro é um chamariz para as pessoas quererem vir de férias e tudo mais. Acho que no Brasil e, principalmente no Rio, não caiu a ficha ainda da quantidade de pessoas que vai desembarcar na cidade, então vai ser uma loucura e meus amigos estão muito felizes, por eu ter conseguido uma transição de carreira tao rápida e por trabalhar num projeto tão grande, como uma responsabilidade tão grande. É muito legal o reconhecimento não só de uma coisa que eu fiz dentro da quadra, mas da pessoa que eu era fora da quadra também. Tenho recebido muito elogio por ter dado continuidade a um desenvolvimento pessoal.
– Antes de entrar para o time do Rio 2016, você já participava de um projeto do COB direcionado aos ex-atletas. Você ainda está ativo neste projeto?
A gente continua sendo capacitado. Na verdade, o Programa de Apoio ao Atleta (PAA), foi o piloto que escolheu 10 atletas para receber essa capacitação. Como hoje eu já trabalho no Rio 2016, continuo sendo monitorado por um coaching, que faz visitas periodicas de 15 em 15 dias e que agora monitora meu desempenho dentro da empresa (RIO 2016). Ele tem reuniões com meu chefe num projeto bem amplo, que tende a nos nortear para um crescimento administrativo ou outro que você tenha escolhido. Então o projeto continua e até o final do ano, a gente está bem gajado no PAA também, que é do Instituto Olímpico Brasileiro.
– E os treinos, sua recuperação…
Hoje eu não tenho mais este treinamento tão específico que é de voltar para a quadra, então faço uma fisioterapia normal, como qualquer pessoa. Se eu fizesse uma pressa para recuperar meu joelho em cinco meses, tudo bem, mas não tenho pressa nenhuma, posso recupera-lo em oito ou nove meses. Eu quero só que ele fique funcional e consiga fazer as atividades que me proponho.
– Você brincou muito com os palmeirenses aqui hoje. Qual sua relação com o futebol?
Na verdade minha família é muito engraçada. Meu irmão mais velho é botafoguense, eu sou flamenguista e o irmão mais novo é tricolor (Fluminense), então sempre tem um pra zuar, mas eu sou o mais tranquilo talvez por ter morado muito tempo fora do Brasil e não ter acompanhado intensamente. Eu adoro futebol, mas não fico zoando ninguém assim não, eu gosto de assistir o futebol bem jogado, se um dia estiver jogando Palmeiras e Sport, e o Palmeiras jogar melhor, vou achar que o Palmeiras merece ganhar. Mas eu tô falando mais porque ontem falei pro meu irmão que estava em SP e ele falou “foi assistir ao jogo do meu Fluminense?” (no dia da entrevista, Palmeiras e Fluminense se enfrentaram pelo Campeonato Brasileiro, na partida que deu o título nacional ao time carioca). Mas eu admiro o esporte, o futebol é muito diferente da realidade da gente, esportista olímpico de outras modalidades.
– Handebol vs Futebol
Futebol no Brasil não é mais esporte, é religião. Então, Futebol à parte de outras modalidades, como o Handebol na Alemanha é religião, deixou de ser esporte. Aqui o Handebol não vira um Futebol pela dimensão e histórico que tem o Futebol no Brasil, além das conquistas, a maneira de jogar, a escola de Futebol do Brasil, isso vai demorar muito. A gente busca desde a minha época no infantil a identidade pro Handebol do Brasil, o que não acontece ainda.
– Fale sobre a parceria que você firmou com o Governo do Estado do RJ para o seu projeto BRUNO SOUZA CAMP.
O Governo do Estado, quando me procurou, já tinha pessoas muito importantes ligadas a convênios similares, então, por exemplo, o Zico faz do Futebol, o Flavio Canto faz um trabalho excelênte com o Instituto Reação dele com o Judô, na Rocinha e outras comunidades. O Bernardinho também implantou o voleibol nas comunidades, e chegou a hora de escolher uma pessoa do Handebol, e eu fui a pessoa escolhida. O convênio é interessante e é importante porque abre o leque não só do Handebol como espote, mas principalmente como uma ação social e de integração, de uma maneira educacional. No nosso Camp e no projeto social, a gente não ensina só Handebol, a gente ensina idiomas também, ano que vem vai ter alemão e inglês. Então a gente tem umas ideias interessantes que vão evoluir com o tempo, mas o projeto abrange assistente social, psicólogos, enfim, é uma equipe multi disciplinar, pois são pessoas que vem de uma realidade muito diferente da nossa. É o Handebol como esporte, tratado como ferramenta de inclusão social, mais com o intuito de aproximar às pessoas de uma realidade mais saudável e esportiva, do que caça talentos de jogadores. É muito longe disso e é muito mais abrangente, muito mais educacioal, como você mesmo falou.
– E a parceria pode se estender ao restante do país?
Muito bom que o RJ começou abraçando essa ideia e principalmente por eu ser carioca. Agora com o modelo pronto, ele é apresentável e replicável a qualquer estado. Mas no caso dos Camps, se quiserem introduzir cursos e camps no Brasil inteiro, vai faltar fim de semana pra gente, né? Mas há modelos para projetos nacionais e eles estão sendo estudados para que possamos apresentar no Ministério dos Esportes, aí já num âmbito nacional e muito maior. Mas há esperanças, e que nós estamos tecendo isso muito bem e amarradinho, para quando for presentado, ser uma coisa palpável e realista. Nada do que a gente promete é impossível, até porque queremos que mais pessoas e mais estados abracem essa ideia, como foi feito no RJ.
– Caso alguém queira levar o Camp para sua região, como faz?
Pode entrar em contato pelo site www.campbrunosouza8.com.br e lá podem dar sugestões e deixar suas necessidades do tipo: Tenho 20 professores para participarem do Camp, ou tenho 40 crianças que gostariam de participar de um fim de semana com você. Enfim, deixei seu recado no próprio site do Camp ou no www.brunosouza8.com.br, a gente tem esse link (site oficial) que nos ajuda muito nessa comunicação, além das redes sociais, meu perfil pessoal no Facebok que tenho sempre abetos aos fãs e sempre tento acolhe-los da melhor maneira possivel.
– Como é o Bruno Souza quando está em casa?
Pô cara, to mundo fala que eu sou um paizão, né? Eu tenho muito orgulho de agora que saí mesmo do Handebol, ter mais tempo para o meu filho. Eu brinco pra caramba com meu filho, tô esperando o segundo filho que chega agora em Dezembro, próximo à véspera de natal, e sou um cara super presente e preocupado, principalmente com o futuro. Como eu vivi muitos anos na Europa, fico preocupado com o futuro, de como o Brasil vai se apresentar a essas pessoas que estão nascendo, nossos descendentes. Sou um cara muito presente e tento participar ao máximo da educação do meu filho.
– Pensa em sair do país para criar seu filho?
Eu tenho algumas facilidades em poder morar lá fora, né? Então isso é uma coisa que a gente sempre pensa. Mas no momento, pelo menos até 2016, eu vou estar aqui no Brasil com o projeto da olimpíada e a gente vai ver um pouco também da administração dos legados, que vão ficar depois dos jogos. Tudo vai depender muito da condição em que se vive no Brasil. Às vezes você consegue ter uma condição boa e prover aos filhos também, já na Europa temos uma unificação disso tudo, pois não se tem uma diferença tão grande de classes, e o que é básico, funciona bem melhor, a segurança, a saúde e outras coisas essenciais. Então é dificil tomar uma decisão, mas a gente vai procurar sempre o melhor pros filhos. Acredito que há sim uma possibilidade de eu voltar a morar na Europa, seja na França onde meu filho nasceu, seja na Alemanha onde eu sou muito bem familiarizado.
Confira nas próximas horas o áudio completo desta entrevista na RÁDIO FPHand!!!
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A praia é quase um quintal de casa, quando meu filho fala “vamos à pracinha”, já sei que não é pracinha, e sim “praínha” (risos). A gente vai muito à praia, faz muita atividade ao ar livre, enfim, piscina e alguns hobbys interessantes. Teatro temos ido bastante com ele (filho), no início não gostava muito, mas agora já entende um pouco mais, né? Mas nunca tivemos nosso filho como alguma coisa que travasse a gente de fazer alguma coisa, ele sempre viajou lá na Europa nos primeiros meses de vida, pra cima e pra baixo, veio para o Brasil com 17 dias e a gente levou ele a Amsterdã, Bélgica, Alemanha, enfim, viajou muito com a gente. Gostamos muito de viajar e apresentar coisas novas a ele. O universo da criança é muito interessante, ele volta para a escola e conta pros amigos qual foi a experiência. Semana passada estivemos em Ilha Grande, próximo ao Rio, então já foi chegar de barco e depois ficar naquele mundo que era uma ilha, com inumeras perguntas que acabam aparecendo, sempre ampliando o universo dele.
– E ele já começou a dar os primeiros arremessos?
É engraçado porque ele curte, ele gosta, e quando vou trabalhar ele pergunta se estou indo trabalhar jogando Handebol. Ele tem uma diferenciação muito legal, pois quando você fala “vamos jogar bola?”, ele já pergunta “Vamos jogar bola Handebol ou vamos jogar bola Futebol?” (risos). Então ele sabe exatamente que o Handebol só pode jogar com a mão e isso é muito legal. Ele dá uns arremessos bacanas, mas eu tento não influenciar em nada, vendo até pelo meu pai que era jogador de voleibol e acabou não dando certo (risos).
– Você já conseguiu identificar a aptidão dele no esporte?
Já consegui identificar que ele gosta de fazer passes saltando, e não normal (com os pés). Ele já gosta de vir correndo, saltar e arremessar, mas por enquanto não tem como identificar porque são só três anos e meio. Ele gosta de brincar, independente de qual modalidade.
– Sua mulher é tranquila em relação a essa sua correria diária?
Eu conheço minha mulher desde que tínhamos 12 anos de idade. Nos conhecemos na escola e, não que a gente namorava desde essa época, a gente veio a se reencontrar depois da escola. Ela é estilista de moda, não tem nada a ver com meu metiê, mas sempre respeitou o que eu fiz, principalmente pela seriedade com que eu me propunha a fazer essa atividade. Então ela gosta pra caramba, e gostava mais quando era para assistir jogos na Europa, aqui ela não tem muita paciência, mas lá ela curtia, até porque acaba sendo um evento o que eles fazem lá, né? E aqui a gente ainda está muito atrás disso. Ela admira muito minha carreira como atleta e me dá forças sempre que pode.